O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) reafirmou a sua meta de uma Palestina "totalmente soberana", num momento de intenso debate internacional sobre a governação e o desarmamento pós-conflito na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
A declaração do grupo surge em contraponto direto com os esforços dos Estados Unidos para formar um governo tecnocrático palestiniano de transição, excluindo o Hamas, e com a firme rejeição do Primeiro-Ministro israelita, Benjamin Netanyahu, à criação de um Estado palestiniano soberano.
A exigência de soberania total do Hamas, que historicamente implicou um Estado em toda a Palestina histórica, tem sido recentemente matizada por líderes do grupo, que em certas ocasiões indicaram a possibilidade de aceitar um Estado palestiniano nas fronteiras de 1967 (incluindo Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental), desde que seja garantido o direito de regresso dos refugiados e que o novo Estado seja "totalmente soberano". Esta abertura, contudo, estaria condicionada à integração do seu braço armado, as Brigadas Al-Qassam, num exército nacional – uma proposta de difícil aceitação para Israel.
O momento desta reafirmação sublinha a complexidade das negociações de paz em curso. Enquanto os EUA procuram apoio na diáspora palestiniana para a formação de uma liderança interina em Gaza, Israel mantém a sua ofensiva com o objetivo declarado de desmantelar permanentemente a capacidade militar e política do Hamas.
Apesar da oposição israelita, o movimento de reconhecimento do Estado da Palestina continua a ganhar força a nível global. Portugal, Reino Unido, Canadá e Austrália estão entre os países que recentemente anunciaram ou avançaram planos para reconhecer a Palestina, uma iniciativa saudada pelo Hamas, mas criticada por Israel como um "prémio ao terror".
A insistência do Hamas na soberania total garante que o futuro de Gaza e o desenho de um eventual Estado palestiniano continuarão a ser determinados não só por Israel e pelos mediadores internacionais, mas também pela agenda política e ideológica da fação militante.