Enquanto o país se prepara para celebrar o Natal em família, para muitos guardas prisionais esta é a fase mais pesada do ano. O desgaste emocional agrava-se, os pedidos de ajuda multiplicam-se e a pressão de um trabalho exigente, feito com poucos meios e longos turnos, torna-se ainda mais difícil de suportar.
É precisamente nesta altura que a linha de apoio psicológico criada pelo Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional regista um aumento alarmante de contactos. Segundo Frederico Morais, presidente do sindicato, só num único dia foram recebidos mais de uma centena de pedidos de ajuda, um número que revela a fragilidade emocional sentida por muitos profissionais do sistema prisional.
O cenário repete-se todos os anos: com a aproximação do Natal, aquilo que fica escondido ao longo do ano vem à superfície. A distância da família, o contraste com o ambiente festivo no exterior e o cansaço acumulado agravam sentimentos de isolamento, frustração e exaustão psicológica.
A realidade profissional também pesa. Falta de recursos humanos, turnos sucessivos e horas extra constantes contribuem para um desgaste contínuo. Num universo de cerca de quatro mil guardas prisionais, o sindicato acompanha regularmente dezenas de casos por ano, mas é no período natalício que a situação atinge níveis considerados críticos.
Perante a ausência de uma resposta por parte do Estado, foi o próprio sindicato que decidiu agir. Há quatro anos, criou de raiz uma linha de apoio psicológico exclusiva para os guardas prisionais, totalmente financiada com meios próprios. Psicólogos e profissionais especializados em prevenção do suicídio asseguram o acompanhamento, sem qualquer apoio governamental.
Para Frederico Morais, esta realidade não pode ser encarada como algo pontual ou sazonal. O Natal apenas expõe problemas profundos e estruturais do sistema prisional português, que se arrastam há anos. É neste período que o peso emocional se torna impossível de ignorar — e que muitos guardas acabam por pedir ajuda.
Fonte:CNNPORTUGAL