A linha ferroviária de Alta Velocidade (TGV) entre Porto (Campanhã) e Oiã (Aveiro), a primeira fase da ligação Porto-Lisboa, continua a ser o tema mais controverso no Distrito do Porto, gerando forte preocupação entre autarcas e a população, especialmente nos concelhos do Porto e Vila Nova de Gaia.
O Projeto e o Impacto no Território:
Elevado Número de Afetações: De acordo com o Projeto de Execução (PE) apresentado pelo consórcio AVAN Norte, o traçado da nova linha de TGV prevê um total de 236 demolições, sendo que 185 são habitações e 45 são instalações de atividades económicas (empresas). Este número é significativamente superior às estimativas iniciais.
Locais mais Afetados: As demolições concentram-se principalmente nas zonas urbanas e consolidadas de Vila Nova de Gaia e, em menor grau, na freguesia de Campanhã, no Porto. Em Campanhã, o relatório aponta para a necessidade de demolir casas na Rua da China e no cruzamento com a Travessa Presa de Agra.
Nova Ponte e Estações: O projeto inclui uma nova ponte sobre o Douro, que será utilizada tanto pela ferrovia de alta velocidade no tabuleiro superior como por tráfego rodoviário no inferior. Prevê ainda a remodelação da estação de Campanhã e a construção de uma nova estação subterrânea em Vila Nova de Gaia (Santo Ovídio), com ligação à Linha Amarela do Metro.
Ajustes no Traçado: O consórcio AVAN Norte defende que o traçado final sofreu ajustes face ao Estudo de Impacte Ambiental (EIA) inicial, nomeadamente em Gaia, para tentar minimizar o impacto, evitando túneis mais longos e mais caros ou desviando o traçado em zonas urbanas consolidadas, como em Grijó. No entanto, estas alterações resultaram no aumento das afetações à superfície.
Reações e Próximos Passos:
Preocupação Autárquica: Os recém-empossados presidentes de Câmara do Porto e de Vila Nova de Gaia, Pedro Duarte e Luís Filipe Menezes, respetivamente, manifestaram publicamente a sua intenção de se inteirar do dossiê com prioridade, ouvir "todas as partes envolvidas" e garantir que os municípios têm uma voz ativa no processo.
Consulta Pública: O Projeto de Execução (PE) esteve em fase de consulta pública, permitindo que cidadãos e entidades pudessem apresentar observações. O encerramento desta fase e a análise das propostas pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) são os próximos passos cruciais para a validação ambiental do projeto.
Objetivo Final: A Linha de Alta Velocidade visa ligar Porto e Lisboa em cerca de 1 hora e 15 minutos quando todo o eixo estiver concluído, com esta primeira fase (Porto-Oiã) a ser a mais complexa em termos de impacto urbano.
O debate centra-se agora na avaliação final da Infraestruturas de Portugal (IP) e do Governo, que terão de ponderar os custos financeiros, os prazos europeus de financiamento e o elevado custo social e habitacional imposto pelo traçado atual.