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Do brilho do Coliseu à dureza do albergue: O isolamento de António Ferro
Publicado em 17/12/2025 22:32
Cultura
Rádio Festival

O histórico músico portuense, que já partilhou o palco com os maiores nomes da música nacional e trouxe lendas do jazz ao Porto, enfrenta agora uma realidade de precariedade e abandono social.

António Ferro, um dos nomes fundamentais do blues e jazz em Portugal, vive hoje num quarto partilhado num albergue no Porto. Aos 65 anos, o fundador da Go Graal Blues Band e antigo colaborador de figuras como Rui Veloso e José Cid, viu a sua vida sofrer uma reviravolta dramática após uma separação em maio deste ano. Antes de conseguir o apoio da assistência social, o baixista chegou mesmo a dormir no Aeroporto Francisco Sá Carneiro.

O contraste entre o passado e o presente é gritante. Ferro, que em tempos foi diretor artístico do Coliseu do Porto — sendo responsável por trazer à cidade artistas como Miles Davis e os Deep Purple —, paga agora 225 euros por uma cama e vive sob o peso do esquecimento.

O silêncio dos "amigos" e o fim dos palcos

Em declarações que revelam a mágoa de quem se sente invisível, o músico confessa a desilusão com o seu círculo social: "Em seis meses não recebi uma única chamada. Ajudei muitos, mas agora parece que deixei de existir".

A situação de vulnerabilidade impede-o, inclusive, de tentar um regresso à atividade artística. As regras de recolhimento do albergue, que exigem a entrada até às 22h, são incompatíveis com o horário de concertos, anulando os planos que tinha para celebrar 50 anos de carreira.

Um percurso marcado pela música e perdas financeiras

A queda de António Ferro não é apenas social, mas também financeira. O músico recorda um episódio dos anos 80, onde alega ter sido lesado em cerca de 600 mil euros pela sua então esposa. "Um dia cheguei a casa e só restava a alcatifa", relata.

Com um currículo que inclui arranjos para o "Fungagá da Bicharada", colaborações com José Mário Branco ou Mafalda Veiga, e a gestão do mítico clube B Flat, Ferro encontra-se agora afastado de tudo o que construiu, sobrevivendo com o apoio social e trabalhos esporádicos fora da área artística desde a pandemia.

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