O Serviço Nacional de Saúde (SNS) enfrenta uma fuga significativa de clínicos, com a perda de cerca de quatro médicos por dia (média de 3,8) entre janeiro e outubro deste ano. Os dados fornecidos pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) à CNN Portugal revelam que um total de 1.151 médicos abandonaram as unidades de saúde públicas neste período, correspondendo a uma média mensal de 115 profissionais.A análise detalhada das saídas mostra que a principal causa não é a idade: a maioria optou por rescindir os seus contratos com o Estado. Dos mais de mil médicos que deixaram o SNS, 679 (mais de metade do total) quebraram o vínculo contratual com hospitais ou centros de saúde. Os restantes 472 aposentaram-se.
Os profissionais que rescindem tendem a seguir percursos alternativos, como a transição para o setor privado, ou a prestação de serviços como tarefeiros através de empresas, sobretudo nas urgências. Uma parcela pode também ter rumado ao estrangeiro.
Envelhecimento e Regresso de Reformados
Apesar de o SNS ter registado um volume de 2.619 reformas desde 2022, o sistema consegue reter parte dos especialistas mais experientes: a ACSS indica que, em outubro de 2025, 803 médicos aposentados continuavam em funções no Serviço Nacional de Saúde, beneficiando da legislação que permite o regresso.
Contudo, o futuro a médio prazo preocupa. A Ordem dos Médicos (OM) alerta que 44,2% dos clínicos inscritos no país têm mais de 50 anos, uma faixa etária que sugere um aumento iminente de reformas.
Apesar da média de idades do corpo clínico no SNS ter descido ligeiramente para 46,6 anos (confirmando uma tendência de decréscimo desde 2019), um estudo recente da associação Causa Pública sublinha o risco: o número de médicos com menos de 35 anos tem diminuído, enquanto os com 65 anos ou mais tem crescido, sinalizando um envelhecimento preocupante para a sustentabilidade do SNS.
Nos últimos quatro anos, o SNS perdeu um total de 6.132 médicos (entre reformas e rescisões), sendo a grande maioria especialistas.